Mais um ano se inicia e, com ele, muitos planos e esperanças, todos renovados. Aquela vontade de que este ano seja 10, não apenas nos números, mas em todos os aspectos. Todos se abraçam e desejam ao próximo a realização de todos os sonhos, e promessas de felicidade se espalham pelo universo em cascatas de fogos de artifício.
Tudo muito bonito e muitas vezes sincero. Mas sou um pouco como meu marido e acho que a festa é um tanto artificial. As intenções são as melhores, mas hoje pela manhã, os fogos e as buzinas tinham se dissipado e a sensação é de ser outro dia, igual aos demais (infelizmente com a chuva estragando nossos planos de escalar e trazendo más notícias pela televisão).
Como diria Drummond, "O último dia do ano não é o último dia do tempo. Outros dias virão". E virão como sempre vieram, cheios de dores e amores e risos e lágrimas e realizações e fracassos, mas sempre cheios de vida.
Ontem, ao ler o post que meu marido escreveu, não pude deixar de pensar em Drummond e em suas palavras sobre o ano novo. Tudo o que eu poderia escrever, certamente repetiria as palavras que o Renato escreveu em tão exata proporção. Então, só pra reforçar a certeza de que depende de nós construir um ano que seja novo, comece ele hoje, 1º de janeiro, ou no dia que você decidir, complemento o post de ontem com alguma poesia, esperando que ela traga a você um pouco de motivação.
Receita de ano novo
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
(Carlos Drummond de Andrade)
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