26 outubro, 2010

Primeiro Aniversário

Pois é, contrariando todos os prognósticos, eis-me aqui, toda feliz e contente, comemorando meu primeiro ano de escalada na rocha. Finalmente, depois de um tempinho de “castigo”, conseguimos ir pra São Bento e meu “aniversário” foi na Pedra da Divisa, na via Justiça Infalível, como se vê, em alto estilo.

Um ano...

Muita pedra rolou nesses doze meses e, de Pedra Bela até a Divisa, foram muitos regletes, alguns abaulados, adrenência pra buné e lá e cá um ou outro agarrão, que a gente merece, fala sério. A via foi íngreme, tenho que confessar. Entre o granito, o arenito e o calcário ficaram muito esmalte, léios de pele, lágrimas, sangue, suor, palavrões e muita determinação. Muitas marcas roxas e tantos arranhões depois, posso dizer que as recompensas foram muitas e valeram cada move.

Olho pra trás e vejo o progresso que já fiz, fico impressionada. Há onze meses, levei mais de quarenta minutos pra subir de top a Água Seca (Visual das Águas), praguejando que não tinha agarra. Hoje, vou guiando em menos de dez, só curtindo o passeio (mas nem por isso sem adrenalina). Pode não parecer muito pro escalador veterano, afinal, a Água Seca é um quarto grau, com um cruxinho de quinto, coisa pouca... mas pra mim, foi uma evolução enorme, vencer meus medos e minhas limitações e conseguir chegar lá. Guiando.

Mas olhar pra trás não é a melhor parte. O melhor é olhar pra frente e ver que tem diversão de sobra por quanto tempo eu quiser (ou puder). Além de existir no mundo muito mais rochas do que a gente pode pensar em querer escalar, esse é o tipo de atividade que é meio impossível estagnar e que nunca vai chegar nem perto da monotonia. Toda vez que eu vou pra rocha, sai algum move novo, um pezinho que eu não tinha tentado, um cristalzinho que eu não tinha arriscado, uma esticadinha de braço que eu não tinha aventurado. Sempre uma evolução.

E não apenas no esporte em si.

Descobri na escalada muito mais do que uma atividade física. Nesse ano que se completa, conheci muita gente legal e unida, gente que se interessa, que partilha, que se preocupa, que fica feliz com a realização do outro, que aplaude e incentiva. E que se esbarra em tudo quanto parede e falésia por aí afora. E o “aí afora”, então! Conheci lugares maravilhosos, que antes só tinha visto de foto, na net ou pela tv.

Me diverti um bocado, senti o vento no rosto, abracei objetivos e galguei-os até alcançá-los. Aprendi a ser mais destemida, a acreditar mais em mim, a pensar antes de cada move (e não só na rocha). Aprendi a ousar mais e assumir o controle. Naquela hora cruxial (ooops!), naquele move decisivo, sou eu quem escolhe qual parte da pedra tocar, em que cristal confiar, se a agarra é adequada ou não. Se a gente traz isso pro dia-a-dia, vale muito mais do que anos de terapia.

Mas, o caminho é longo. Sei que estou só na primeira cordada da via e que tem muito mais ainda por vir. Mas, já passeio no quarto grau, já me sinto confortável no quinto e já me atrevo a arriscar um sextinho (olha lá a Justiça Infalível!), claro que com ajuda e alguma trapaça. Mas, o mais importante de tudo, é que estou me divertindo muito.

Pra concluir meu parabéns para mim, não posso deixar de dizer um muito obrigada super especial pro meu maridão, meu mestre na escalada e inspiração para subir (literalmente) na vida. Obrigada. Por acreditar em mim, sempre, mesmo quando eu duvido. Por me introduzir e conduzir nesse mundo de pedra. Por sua obstinação e perseverança. Por sua paciência. Acima de tudo, por seu amor, que me incentiva e me motiva todos os dias.

Valeu pela segue!


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